De olho

Febre maculosa

Principal forma de transmissão é por meio do carrapato-estrela, presente em algumas áreas rurais

Foto: Divulgação - Carrapato da espécie Amblyomma cajennense, também conhecido como carrapato-estrela

Por Joana Bendjouya

A febre maculosa é uma doença infecciosa transmitida pela bactéria Rickettsia rickettsii, através da picada de uma das espécies de carrapato, o Amblyomma cajennense, conhecido como carrapato estrela.

A infectologista do Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE/UFPel) Bruna Gazoni de Souza explica que esta não é uma espécie de carrapato comum encontrado em cães e gatos na região sul do Estado e, para que haja o contágio, o carrapato precisa estar infectado. “A doença é transmitida pela picada de um carrapato infectado, o que atinge nosso organismo é uma bactéria, ela não passa de pessoa para pessoa e precisa que o carrapato esteja contaminado. O risco é muito baixo, é uma doença rara, mas tem uma prevalência um pouco maior em algumas regiões do País como São Paulo e a região norte do Paraná. Mas, diante do alerta, todas as regiões devem ficar atentas”, explica.

O carrapato-estrela possui duas fases, sendo que na inicial ele tem tamanho microscópico e pode passar despercebido. Enquanto na fase adulta é maior e já têm formato estrelado, tornando-se mais perceptível ao olhar humano.

A transmissão ocorre se o carrapato-estrela estiver infectado com a bactéria e picar alguém ou algum animal. Importante ressaltar que, como o parasita é o transmissor, não é possível a doença passar diretamente de pessoa para pessoa e nem através do contato com animais infectados, sendo necessária a picada para transmissão.

Animais que hospedam o carrapato-estrela
Uma ameaça para os humanos quando infectado, o carrapato-estrela, da espécie Amblyomma cajennense, pode usar como hospedeiros:
- Cavalos
- Bois
- Gambás
- Capivaras
- Coelhos
- Micos
- Aves domésticas
- Répteis
- Também animais de estimação como gatos e cachorros, desde que frequentem áreas aonde o carrapato possa estar presente.

O que fazer após uma picada?
Se algum animal de estimação estiver com o carrapato-estrela, é recomendado que ele seja levado ao veterinário, que deverá indicar o melhor produto para o tratamento. Já em humanos, o carrapato deve ser removido com uma pinça, com muito cuidado para não apertar e esmagar o carrapato diretamente na pele. “Se for picado por um carrapato, a primeira coisa é retirar, usando uma pinça, estas usadas para sobrancelha. Após retirar o carrapato, o ideal é colocar dentro de um vidro e entregar na UBS mais próxima para ser enviado para análise. Muito embora não se tenha relatos de carrapatos contaminados na nossa região, este deve ser o procedimento”, orienta a infectologista.

Sintomas
A médica explica que a doença começa de forma repentina com um conjunto de sintomas semelhantes aos de outras infecções, o que muitas vezes pode atrapalhar no diagnóstico correto. “É uma doença de difícil diagnóstico por apresentar sintomas inespecíficos e que se confundem com outras doenças. Os principais sinais e sintomas tornam essa doença muito parecida com outras que temos por aí, o que não é tão simples de diagnóstico.”

Por essa razão, o médico deve observar o histórico do paciente, principalmente se ele esteve em regiões onde há cavalos ou animais silvestres ou em locais onde foram registrados casos de febre maculosa. Os sintomas levam em média de sete a dez dias para se manifestarem e, a partir disso, o tratamento deve ser iniciado o mais rápido possível para que não haja complicações. “Se a pessoa for picada por um carrapato, deve observar se de dois a 14 dias após, começar a apresentar sintomas como febre e manchas pelo corpo. Essa pessoa deve procurar um atendimento médico e relatar esse contato e, assim, fazer um teste para análise através de exame de coleta de sangue. O tratamento é feito com antibiótico bem simples e conhecido”, orienta Bruna.

O atraso no diagnóstico e, consequentemente, no início do tratamento pode provocar complicações graves, como o comprometimento do sistema nervoso central, dos rins, dos pulmões, lesões vasculares e levar à morte.

Principais sintomas:
- Febre
- Dor de cabeça intensa
- Náuseas e vômitos
- Diarreia e dor abdominal
- Dor muscular constante
- Inchaço e vermelhidão nas palmas das mãos e solas dos pés
- Gangrena nos dedos e orelhas
- Paralisia dos membros, iniciando nas pernas e subindo até os pulmões, causando parada respiratória

Prevenção
A infectologista salienta algumas orientações para se proteger em caso de necessidade de circular em locais possivelmente infectados e facilitar a visualização dos carrapatos. Não existe um imunizante que proteja da febre maculosa. “A prevenção é feita pelo uso de roupas longas e preferencialmente claras quando a pessoa vai entrar em alguma área de mata densa ou um campo onde possa ter esses carrapatos. Uso de inseticidas específicos contra os carrapatos e lembrando que não têm vacina, por isso a importância dos cuidados.”

A médica infectologista ressalta ainda que é importante que todos tenham conhecimento da forma preventiva da doença, embora na Região Sul do País não se tenha casos registrados de contaminação ou óbitos pela febre maculosa. “A forma potencialmente letal está classicamente restrita à Região Sudeste do País e eventualmente Paraná e Sao Paulo, que concentra a grande maioria dos casos letais. Nunca foi registrada no Rio Grande do Sul.”

Monitoramento
As secretarias da Saúde (SES) e da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) do Estado estão monitorando os casos da febre maculosa no Rio Grande do Sul. Segundo nota emitida, a transmissão da febre maculosa não está associada ao carrapato-estrela (A. sculptum), mas a outras espécies de carrapatos do gênero Amblyomma, encontradas em animais silvestres e, ocasionalmente, em cães e gatos e reforçam que a forma potencialmente letal de febre maculosa nunca foi registrada no Estado. É importante ressaltar que no Brasil existem dois tipos de febre maculosa. Um deles, com alto potencial de letalidade, é causado pela espécie Rickettsia rickettsii; o outro, mais brando e não-letal, é causado pela espécie Rickettsia parkeri.

Um dado importante é que, no Estado, a febre maculosa não tem perfil de ocorrência em área urbana e a maior parte dos casos está associada a pessoas que frequentaram áreas de mata densa, trabalhando ou fazendo atividades de caça e trilha. Além disso, o carrapato bovino (Rhipicephalus microplus) não apresenta qualquer risco de transmissão de febre maculosa ao ser humano. O carrapato comum do cão nas áreas urbanas (Rhipicephalus sanguineus) também não tem sido considerado como vetor relevante de febre maculosa.

De acordo com dados da Secretaria de Saúde do Estado do Rio Grande do Sul, entre os anos de 2007 e 2022 foram confirmados 17 casos, sem nenhum óbito. Até o momento, em 2023, não há confirmação de casos.

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